terça-feira, 28 de outubro de 2014

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

A Teia de Germano

Um papo sobre teias...

O blog existe como um registro dos meus passos de autor iniciante, mas é interessante que, quando me movo, aqui é o primeiro lugar a ficar cheio de teias pelo abandono. Bom... Prioridades, são prioridades, né? O noivo está lançando o romance dele Remoto e Improvável e, juntos, estamos no processo de produção do livro Remetente N15 (que depois faço um post contando desse projeto muito especial).

Mas, falando em teias no blog... Quero contar sobre um livro que li recentemente chamado A Teia de Germano e que passei um tempo pensando antes de querer escrever ao autor minhas impressões. Acredite: Missão dificílima! Primeiro que não sou resenhista e segundo por encontrar nesse livro uma aventura que não é fácil contextualizar.

Roberto Muniz Dias é o autor-pensador e, claro, culpado! É dele a culpa pela viagem à uma ficção marcada pela metalinguagem e a desconstrução da relação autor x personagem. Complexo. Mas é exatamente assim que a mente de um criador é: cheia de complexidades e com a eterna busca pelo significado das coisas. Acho que daí veio a minha verossimilhança.

A história conta sobre Lúcio, um Ghost Writer que está escrevendo a biografia de um outro autor, o Erich. Entre cartas, textos e lembranças dos encontros dos dois escritores, suas vidas começam a convergir... Seja pelo sentimento de solidão, pela busca da essência ou pelos questionamentos do sentido das coisas. Germano é o que considero o grande epicentro. Este é o personagem de um livro escrito por Erich e que Lúcio se sente conectado como se pudesse entender a sua própria existência enquanto descobre o personagem. Para entender essa teia (literalmente), imagine a Matrioshka, uma bonequinha russa onde você vai encontrando uma dentro da outra. Germano é a menor das bonequinhas e que, para ser encontrado, necessita uma desconstrução. A revelação de camadas finas que  separam a vida dos escritores de seus personagens - ora pelas semelhanças ou diferenças, ora pelos fantasmas que assombram nosso imaginário.

Não é uma leitura fácil. A linguagem não é popular. Também acredito que não fosse a intenção do autor tornar as coisas fáceis. Há nele segurança e domínio no que se quer contar. É um livro que nos tira da zona de conforto. O mais interessante é que, se no começo eu achava que não fosse me envolver ou compreender o percurso da história, aos poucos, a minha mente foi tratando de dar um sentido de compreensão muito pessoal sem que eu me forçasse a isso. Não gosto de bater cabeça com coisas complicadas só pra parecer inteligente. É que, de fato, o mundo construído em torno ao Germano, eu o compreendia... Do meu jeito.

Roberto, formação em Direito e Letras e mestre em Literatura, lida com as palavras de forma pulsante. Traz um vasto vocabulário e construções narrativas para leitores que gostam de encontrar novas formas de falar sobre as mesmas coisas. Creio que, em alguns momentos, poderia ter encontrado soluções mais simples  para concluir alguns raciocínios abordados ao longo da história, mas percebi que até nisso há algo de proposital. O escritor é fiel à mente elaborativa de seus personagens. É o tal fluxo de consciência.

Momentos como preparar e tomar um café, o acúmulo de camisinhas no chão, a morte de um passarinho, ouvir música numa vitrola, adoção por pessoas do mesmo sexo são narrados de formas singulares e que me marcaram profundamente.

Em sua conclusão, ele ainda nos permite mais uma ruptura. Cheguei tão próximo do epicentro - Germano - que um fator surpresa se revela sem que tivesse me preparado para outras possibilidades: as camadas se revelam até a última frase. Gostei disso (depois que caiu a ficha, claro... rs). Quando a história termina, não dá para formar uma opinião sem recordar alguns pontos chaves na história. Só depois de uma boa reflexão é que compreendi, de fato, que não foi possível sair dessa teia sem que um pouco dela ficasse em mim.


Roberto Muniz Dias está com o livro à venda pela AMAZON!
Deixo aí minha dica e os parabéns aos autor.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Remetente N15

Esta é a primeira capa do novo livro #RN15

Remetente N15 foi um projeto cuja ideia surgiu há 3 meses e o Guilherme Oli entrou comigo no direcionamento da ideia.

Demétrio, um investigador, suspeita de que um caso misterioso de pessoas desaparecidas esteja relacionado a um anúncio estranho que circulou pelas mídias. Por conta disso, ele chega a 14 cartas e confirma sua suspeita. A cada capítulo, o leitor vai conhecer a história de cada remetente até chegar ao fim desse mistério. Se são 14 cartas, quem seria o remetente N15? Onde está esta outra carta? Embora o mistério seja a motivação do livro, os capítulos reservam outras emoções e surpresas. A começar pelo fato de que cada história é contada por um autor diferente. 

Pra conhecer a equipe envlvida e reserva o livro, Só clicar na imagem abaixo ou AQUI!

CATARSE é a plataforma escolhida para lançar o projeto. Através deles, os leitores poderão reservar o livro e, assim, apoiam a ideia. Temos meta mínima para torná-lo realidade. Do contrário, o valor retorna aos apoiadores.








quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Administração de tempo para escrever?

Ontem, um amigo perguntou como faço pra administrar o tempo pra conseguir, além de outras coisas, ler e escrever. Achei engraçado como que minha resposta foi rápida: "Eu sou péssimo em administração do tempo. É que, na correria, eu priorizo aquilo que é mais importante: Amar."

***

Eu me meto com várias coisas ao mesmo tempo. Supervisiono projetos numa empresa de comunicação, produzo conteúdo de marketing para uma empresa de mídia digital, divulgo e distribuo o meu primeiro livro, estou trabalhando num projeto aí meio secreto, escrevendo o próximo romance, começando a promover um bate-papo literário sobre o protagonismo homossexual na literatura, cuido da minha cachorrinha Tekila, da casa em volta dela, do noivo e... Bom, é só isso tudo aí. E o silêncio como que fica? Bom...

Silêncio e tempo pra escrever é algo importante demais para a produção. Deixar a mente vazia, em paz... Mas, a realidade dos autores que estão começando é outra. principalmente pra uns doidos que curtem a ideia de autopublicação. É uma postura ativa de trabalhar em mais de uma profissão, cuidar das obrigações, manter um relacionamento, etc. Ou seja, esqueça aquela ideia de filmes onde o escritor viaja pra sua casa de campo e escreve aquecido pelo fogo da lareira. Eles até existem, mas olha... Pra chegar nisso... Sei lá, viu! Prefiro nem cobiçar muito.

De maneira alguma eu diria que não é preciso disciplina, pois acho que é importante para o exercício da escrita. Mas, também defendo que qualidade de vida é fundamental.

Por conta disso, minha administração de tempo consiste, basicamente em: Se tudo está corrido, pressão de todos os lados, prazos e tudo o que envolve um cotidiano cheio de coisas que me levam ao ponto de eu ter que escolher o que fazer primeiro e o que abrir mão, eu paro e vou fazer aquilo que é a minha prioridade - Meu noivo. É bem simples e automático. Na oportunidade de escolher, eu vou naquilo que me proporciona uma experiência que vai afetar positivamente em todas as outras. Um filme, um cafuné, cozinhar algo diferente juntos, contar um pro outro sobre o livro que está lendo, as ideias que teve... Essas coisas elevam meu espírito! Relaxo, curto esses momentos e depois, bem comigo mesmo, vou cuidar do resto.

Apenas parece que eu escrevo menos agindo assim. Só que eu sinto o contrário. Sinto que escrevo até mais. Que o pouco tempo que eu tenho pra conseguir escrever, é mais produtivo. Talvez pelo fato de ter usado aqueles momentos de bloqueio criativo (aquela travada no nosso sistema operacional, sabe?), para curtir aquilo que me faz feliz.

Não. Eu não me vejo naquele grupo de pessoas que escrevem só em momentos de insight criativo. É preciso sim se forçar, se dedicar, procurar ter, todo dia, nem que seja só alguns minutos pra exercitar escrevendo. Mas não saberia ficar horas e horas com o notebook no colo e louco pra terminar uma história enquanto a minha história de vida me espera pra que eu a escreva vivendo.

Eu grifei "minha prioridade", pois isso é bem relativo. O importante é que essas prioridades existam. Elas nos dão uma direção e equilíbrio na hora que tudo fico meio confuso e complicado de administrar. Por mais que se diga que o maior prazer da vida é escrever, é bom que existam outros prazeres. É o que evita que a gente pire. Se houvesse uma ordem que eu pudesse, humildemente, sugerir...


  • Faça o que tem que ser feito: O que se entende como real obrigação.
  • Termine a obrigação e faça aquilo que mais te dar prazer além de escrever.
  • Com a mente em paz, escreva.


Essa receita funciona legal pra mim. Vou sempre bater na tecla de que nada é regra universal. Se você escreve, passou pelo blog e conhece outras pra compartilhar, por favor, pode comentar.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Aos novos aventureiros da autopublicação (Self-publishing)


Ao optar pela autopublicação, eu já estava mais ou menos pronto para tudo: satisfação pessoal, total controle dos meus primeiros passos, preconceito, ralação pra divulgar e toda uma montanha russa de fortes emoções.


Eu me pergunto sempre por onde andei nos últimos anos que demorei a perceber como está fácil publicar um livro. Vi isso acontecer com o cinema durante o boom da tecnologia digital e lembro dos meus professores da faculdade promovendo discussões sobre as vantagens e desvantagens da democratização audiovisual. Desvantagens? Eu nunca consegui encontrar... Se a questão é que isso facilitaria a produção de trabalhos ruins, por outro lado, também facilitaria a produção de coisas boas. E é assim com os livros. Quem tem o sonho de publicar, encontra uma série de opções baratas através da internet. É possível lançar em ebook pela Amazon, Google Play, Kobo, Bookes, ou bancar o impresso. Este é o momento em que as dificuldades de publicar dão lugar às dificuldades de se destacar, criar um produto de qualidade e se manter no mercado.


Numa entrevista, o editor-chefe do Grupo Record Carlos Andreazza comenta da importância dessa nova realidade. Disse que lançou autores cujo primeiro trabalho foi por autopublicação e que, certamente, essa será a realidade de muitos outros autores.

Publiquei meu primeiro romance ano passado, conheci vários autores e venho formando opinião a respeito dessa experiência. Embora a trajetória seja única para cada novo escritor, há alguns pontos gerais para quem tem curiosidade a respeito.


EDITORA

Nesse modelo de autopublicação impressa, é você quem escolhe a editora. Eu escolhi uma que tinha 10 anos de experiência e um orçamento relativamente bom. É preciso pensar quanto vai custar cada livro impresso, pois isso afeta quanto o autor irá cobrar por ele depois.

REVISOR

Muitas editoras oferecem revisão, mas vale à pena pensar num revisor indicado ou conhecido. Há os que trabalham como copidesque que, além de revisar erros, também pensam na estrutura da narrativa quando algo não se encaixa bem.


PREÇO
Publicar 500 livros está numa faixa de R$8000,00. Tem quem cobre menos e quem cobre mais. Importante pensar nos benefícios da editora. De 500 pra 1000, nem muda tanto o valor. Só pense que você não vai querer ver seus livros mofando, então é legal dar uma analisada cautelosa a respeito. Por aí, você consegue tirar uma base e se preparar pra economizar uma grana.


LEIS DE INCENTIVO
É bom saber se na cidade do autor existem projetos de lei de cultura que beneficiem autores com verbas públicas. Tudo vai depender da qualidade da proposta do livro, da contrapartida oferecida e de uma boa atenção à todas as exigências do edital.


RELACIONAMENTO
Todo mundo lê por aí da importância das redes sociais para autores iniciantes. Acho que muitos se confundem nesse momento. Após lançar o primeiro livro, o autor vai perceber que existem centenas de outras pessoas na mesma situação dele. Todos querem falar de seus livros e todos frequentam os mesmos grupos e comunidade. Eu, me colocando no lugar de um possível leitor, acho muita coisa chata. É que, na verdade, rede social deve ser usada para relacionamento. Trocar ideias, pensar projetos, ouvir e fazer críticas, buscar assuntos relacionados ao tema do livro. E vale a pena ser honesto, verdadeiro e não ficar fingindo amizade por interesse. Ter personalidade para se relacionar com os outros é muito importante. É um grande momento de aprender, inclusive, a dizer não. As pessoas com quem o autor iniciante se relaciona e, principalmente, com quem o autor deixa de relacionar, significam muito para a definição da trajetória dele.


PRECONCEITO
Se por um lado parece chique publicar, para o mercado, a autopublicação ainda tem muito que ser defendida como modelo profissional de qualidade. Como é democrático e todo mundo publica, há muita história mal escrita (farei uma postagem sobre o meu parâmetro de história mal escrita), sem revisão, com erros gravíssimos de português. Mas, pela postura do autor, já dá pra ter uma ideia do que esperar do livro dele. Para obter respeito do trabalho, é preciso saber conquistá-lo. Leva tempo e não é da noite pro dia que as coisas acontecem. O respeito e a admiração são construídos diariamente.


BLOGUEIROS
Eu fiz poucos e bons amigos blogueiros. Pessoas inteligentes, interessadas e que o papo flui bacana. Porém, os autores são procurados diariamente por pessoas pedindo livro com a promessa de que ganhará uma resenha de divulgação. Cara com coração mole, se dá mal aí. Custa caro publicar, mas agora imagina todo dia dar um livro pra alguém! Tenha um pdf disponível sempre para esses casos. Blogueiro que pede um livro para resenhar no blog e que gosta mesmo de ler, não vai se importar se você não puder dar o impresso. Mas não dá pra descartar as resenhas. Primeiro pela divulgação, segundo, pra ter a opinião de alguém de uma forma bem estruturada (nem sempre...) e também pra ajudar o autor iniciante a ganhar confiança no próprio trabalho. Todos os blogueiros que resenharam meu livro não fazem ideia de como me ajudaram nisso. Chego a dizer que eles sabem falar do meu livro melhor que eu mesmo.


ESTRELISMO
A grande armadilha do universo literário é a vaidade.  Sempre achei que era melhor esforçar para fortalecer o nome do livro e não o nome do autor iniciante. Mas eu vejo muita gente que inverte isso. Tudo bem que cada um sabe da sua estratégia. Só que parece que alguns escreveram o livro somente pelo status. Antes de lançar, exclui meu perfil no facebook, pois tinha gente demais lá que eu já nem fazia ideia de quem eram. Isso poderia atrapalhar na divulgação de lançamento. Eu não queria apenas que soubessem que eu estava publicando, queria que as pessoas ali realmente se interessassem em ler. Fico feliz de ter dado certo. Eu tinha, nesse caso, um círculo de pessoas que respeitavam o meu momento e não me idolatravam por motivos banais - Primeiro que escrever não enriquece (tirando os autores famosos de best sellers...), e segundo que eu queria foco no livro e não em mim.
É um caso delicado... Como pode dividir opiniões, fica a minha de que autor em busca apenas de status, não me convence.


OBJETIVOS
Esse tópico deveria estar no começo desse humilde artigo, mas vai no fim para fixar. Tudo depende dos objetivos. É preciso saber desde sempre o que se quer e fazer um planejamento que vá ao encontro dos propósitos. Tudo parte de um conhecimento profundo de si. A capacidade, a vontade, a intuição, o sonho... Esta é a melhor maneira de ter uma direção para não sair dando tiros desesperados no escuro. Tudo o que se manifesta, ficará pra sempre. E é bom ter, inclusive, medo de realizar estes sonhos. Às vezes, eles são maiores que nossa capacidade de saber lidar. Sou a favor do pé no chão. E é assim que eu me baseio em busca de reconhecimento e de fazer a minha carreira que acabou de começar! Aliás, é por isso que digo que não sei o segredo e não dito regras, mas sei onde quero chegar e não me importo em compartilhar um pouco do que absorvo e observo.


O que achou desse texto? Opiniões e críticas serão sempre bem-vindas! 

terça-feira, 8 de julho de 2014

Entrevista, na íntegra, postada no blog do Ben Oliveira

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Tive a oportunidade de ler Condicional e resenhar para o blog. Para quem ainda não leu, o livro conta a história de Lucas, um protagonista anti-herói, egoísta e problemático que se envolve em uma série de problemas, sem se preocupar com quem está pela frente e com suas consequências. Lucas é responsável por um acontecimento que marcou a vida dele e dos amigos. E quando você acha que o protagonista vai melhorar, os conflitos crescem mais e mais, prendendo o leitor da primeira até a última página.

Sobre o autor entrevistado – Nascido em Juiz de Fora (MG), Paulo Sérgio Moraes mora em São Paulo. Formado em Cinema e TV e especializado em Marketing, com foco na área de Relacionamentos.

Leia a sinopse de Condicional: “São Paulo, 1997. Lucas comemorava com os amigos o término do curso de administração. Jota, em mais uma noite como outra qualquer, deixava a periferia tentando levantar algum dinheiro fácil. Um era refém de sua própria autoestima e gabava-se de ser capaz de não se levar pelos sentimentos, e o outro não sabia exatamente quem era. Ambos viram a noite terminar fora do planejado… Condicional retrata uma turbulenta relação que surgiu à sombra de desejo, descobertas, medo e crime. Momento em que o amor deixou de ser um sentimento e virou uma condenação. Uma história imprevisível que promete emocionar e surpreender o leitor”.


Ben Oliveira: Desde quando você escreve literatura?

Paulo Sérgio Moraes: Era bem moleque! Apaixonado pelos livros do Pedro Bandeira, comprei um caderno e comecei a escrever inspirado nele. A partir daí, foram vários cadernos, até que minha tia teve dó de mim e me deu uma máquina de escrever.  Meus primeiros romances, escrevia nesta máquina e levava pro pessoal da escola. Depois que formei em cinema, estava mais focado em escrever roteiros para curtas e trabalhos publicitários. Escrevia pra alguns grupos de teatro também. Só agora pude me dedicar sério em um romance para publicar.

Ben Oliveira: Paulo, de onde surgiu inspiração para escrever Condicional?

Paulo Sérgio Moraes: Eu li algumas coisas sobre pessoas que se apaixonaram por criminosos famosos. No filme Monster (excelente, aliás), também fala sobre uma garota que se apaixona pela serial killer e é uma história real. A princípio, era pra ser uma peça sobre isso e ia mandar para um grupo de MG, mas percebi que os conflitos que eu bolei dariam um livro. A partir daí, fui amarrando fatos e trazendo elementos como a homofobia, o movimento neonazista, intolerância religiosa, a noite de São Paulo no fim dos anos 90...

Ben Oliveira: Como decidiu pelo título "Condicional"?

Paulo Sérgio Moraes: O livro fala sobre amor bandido e queria um nome que remetesse a este universo. Liberdade condicional é um direito concedido a alguns presos. Eles saem da prisão com condições impostas. Daí, pensei numa forma subjetiva: O personagem principal nunca se apaixonou e, de repente, ele resolve libertar um sentimento novo e ele acredita ter o controle da situação. Assim, surgiu o título.


Ben Oliveira: Lucas, o protagonista de Condicional é um anti-herói. Por que optou por um personagem cheio de conflitos e não um mocinho clichê?

Paulo Sérgio Moraes: Era a base do meu conflito. Pensei: “E se o fato do personagem estar apaixonado pelo bandido não fizer dele uma vítima?”. Um cara egocêntrico, individualista e que não se importa com os sentimentos de ninguém. Pensava se seria possível que uma paixão o tornaria alguém melhor. Além disso, não tenho paciência com mocinhos! Gosto de protagonistas com personalidade mais próxima do que nós somos de verdade: com virtudes e defeitos.


Ben Oliveira: É verdade que Condicional terá um spin-off? Conte mais sobre isso.

Paulo Sérgio Moraes: Sim. Atualmente, os leitores estão habituados com trilogias. É uma onda da literatura internacional. Eu não via isso pro meu livro, mas muitos me escrevem pedindo continuação e  imaginam o que aconteceu com alguns personagens. Então, vai sair algo que não será exatamente uma sequência, mas de grande impacto em Condicional. Ainda não tenho como dar muitos detalhes disso.

Ben Oliveira: Apesar de Condicional ter personagens gays, muitos de seus leitores são heterossexuais, o que nem sempre acontece quando se tratam de livros com temática gay. Como explica o sucesso do livro, independente da orientação sexual?

Paulo Sérgio Moraes: Acredito que um dos fatores tenha sido por conta das minhas relações pessoais. Eu tenho vários amigos heterossexuais e que gostam de ler, compraram o livro e divulgaram por aí. Outra questão é que eu sempre dizia que queria uma história que não estivesse focada na orientação sexual dos personagens, mas nos sentimentos. E sentimento é universal! Eu escrevi pensando em que gosta de literatura, seja a pessoa gay ou não.

Ben Oliveira: Como suas experiências em teatro e cinema ajudaram na escrita do romance?

Paulo Sérgio Moraes: O exercício de roteiros para curtas-metragens me ensinou a contar uma história com poucos diálogos ou nenhum. Tenho um curta de 3 minutos chamado Feliz Aniversário que mostra bem isso. Quanto ao teatro, é preciso ter um bom conflito para prender a atenção do público. Levei essa carga de experiência para o livro, pois não queria uma história arrastada e nem diálogos desnecessários. 

Ben Oliveira: Por que optou pela autopublicação? Quais são as vantagens e desvantagens?

Paulo Sérgio Moraes: Estava ansioso para vê-lo publicado. Não ia conseguir esperar resposta de editoras. A vantagem da autopublicação é que ele saiu exatamente como eu queria e eu tenho liberdade para fazer qualquer ação para divulgar e vendê-lo, além do retorno financeiro ser todo meu. A desvantagem é muito relativa... Se for considerar editoras pequenas, elas não me oferecem nada que eu não possa fazer sozinho, mas as editoras grandes tem um ótimo trabalho de marketing e distribuição, ou seja, o alcance é maior. Ainda quero passar por essa experiência também.

Ben Oliveira: Recentemente, a versão digital de Condicional foi disponibilizada na Amazon. Qual é a importância do autor contemporâneo se adaptar ao meio eletrônico?

Paulo Sérgio Moraes: Alcance e baixo custo. Assim, posso vender o livro para qualquer lugar do mundo e por um preço acessível, pois não tenho gastos além da mão de obra de um editor específico para fazer a publicação. São milhões de pessoas que preferem ao ebook e a tendência virou uma realidade de mercado. O autor que se adapta, se torna inserido nesta evolução natural.

Ben Oliveira: Durante 5 dias o e-book estava grátis e ficou entre os livros digitais gratuitos mais baixados. Qual foi o feedback dos leitores?

Paulo Sérgio Moraes: Isso de estar entre os gratuitos mais baixados, em 3 categorias, durante os 5 dias me pegou de surpresa.  Quanto aos feedbacks, recebo muitos e-mails e 100% deles vem de pessoas que gostaram e me incentivam a continuar. Alguns se apegaram aos personagens coadjuvantes e cobram um final melhor elaborado para eles, mas como a história é narrada pelo protagonista, precisei pensar como ele e só contar o que era relevante do ponto de vista dele, para ser coerente. Eu pensei o final de cada personagem como uma consequência de suas escolhas e isso é possível perceber para todos os envolvidos na trama. Qual é o destino de quem se anula demais pelos outros? Qual o destino de quem se arrisca? Qual o fim de quem não pensa nas consequências do que faz? Por aí vai...

Ben Oliveira: Autores nacionais, principalmente de literatura LGBT, não têm muito espaço nas livrarias. Este ano, você participou da Feira Cultural LGBT, vendeu seus livros e teve contato direto com os leitores. Como foi a experiência? 

Paulo Sérgio Moraes: Eu não sou muito de reclamar de falta de espaço em livrarias, o meu está em algumas, mas sei que não ganho destaque por eu não ser autor conhecido. O importante é poder participar de feiras como essas. É um prazer indescritível! Ficava quietinho observando os leitores olhando os livros, pegando o meu para ler a sinopse. Aí eu percebia o perfil do leitor que se interessava pelo estilo de Condicional. Foram 12 horas de uma experiência muito boa, que não vejo a hora de repetir.

Ben Oliveira: Condicional tem muitos conflitos emocionais e diálogos marcantes. Há alguma possibilidade do romance ser adaptado para o teatro ou cinema?

Paulo Sérgio Moraes: Não sei... Tudo é possível! 


Ben Oliveira: Qual/quais são seus próximos projetos literários?

Paulo Sérgio Moraes autografando Condicional. Foto: Divulgação.
Paulo Sérgio Moraes: Além do projeto envolvendo Condicional, também estou no processo de pesquisa e desenvolvimento de conflitos do novo romance. Vai ter muita influência dos clássicos da literatura e também vai manter a mesma personalidade presente no primeiro. Tirando isso, fiz um blog com meu parceiro para escrever contos inspirado em notícias, mas tá difícil ter tempo pra colocar coisas legais lá: www.umfatoeumconto.blogspot.com.br

Ben Oliveira: Quais são os desafios de ser escritor no Brasil?

Paulo Sérgio Moraes: O primeiro desafio do escritor pode ser ele mesmo. Tem escritor que mais reclama do que produz, mais tem idéia do que conclui um projeto e mais procura defeito nos outros do que em si. Escrever e publicar é muito simples hoje em dia. Se não tiver verba para o impresso, basta lançar em ebook. O desafio é ter qualidade, encontrar um bom revisor, agir com profissionalismo e ética e buscar soluções novas o tempo todo. Sim, as editoras grandes valorizam mais os autores conhecidos, estamos num momento em que obras estrangeiras conquistaram de vez  a juventude e a literatura também parece perder a guerra para a internet e televisão. Eu faço a minha parte! Quero ter responsabilidade com o meu trabalho e fazer algo relevante. Não importa se eu só tenho mil leitores, mas que sejam mil leitores que leram algo que valeu à pena.

Ben Oliveira: O escritor contemporâneo não pode simplesmente saber escrever, mas ter noções de marketing para promover suas obras. Como você avalia esse cenário? 

Paulo Sérgio Moraes: Precário. Parece um açougue! O intuito é vender, custe o que custar. Vale tudo... As ideias são apelativas e de muito mau gosto. Alguns escritores querem aparecer mais que o próprio livro. Perdem grandes oportunidades de dialogar com o público de uma maneira construtiva. Tudo bem que, às vezes funciona, mas tudo depende do objetivo de cada autor. Eu, por exemplo, nunca estive preocupado apenas em vender, mas saber como o leitor foi afetado pela história. O marketing não deve ser só venda, mas um aprendizado e oportunidade de desenvolvimento para não cometer os mesmos erros sempre.

Ben Oliveira: Para o autor independente, marketing é muito importante. Quais ações você tem realizado para divulgar Condicional? Tem dado resultado?

Paulo Sérgio Moraes: Eu tenho um planejamento em mente sobre o que falar e quando divulgar. Aconteceram muitos ajustes ao longo do processo. Algumas coisas saem, são adiadas ou adiantadas. Em todas as ações, o objetivo principal é agregar valor ao livro. Sim, dão resultados. A meta para este ano era o retorno do investimento. Isso veio muito antes do previsto, então, preciso repensar tudo o que havia planejado.

Ben Oliveira: Que conselhos você deixaria para quem sonha em se tornar escritor? 

Paulo Sérgio Moraes: Não pense em lucro, pense em alcance! Leia muito antes de escrever e refaça sempre que necessário. É importante ler sobre tudo, de autores contemporâneos aos clássicos. É a melhor forma de ter referências e saber qual o caminho seguir. Ter personalidade é fundamental, tanto para escrever como para se relacionar com os outros. Pensar que uma história deve ter conflito bem definido e bons personagens. Se permitir errar e aprender com isso.. A partir daí, a coisa flui.

Ben Oliveira: Quais autores são sua inspiração?

Paulo Sérgio Moraes: Caio Fernando Abreu, Nelson Rodrigues, Aluísio de Azevedo, Pedro Bandeira, Anne Rice e Clarice Lispector.

Ben Oliveira: Onde é possível encontrar Condicional?

Paulo Sérgio Moraes: Só entrar no site www.paulosergiomoraes.com.br ou buscar na Amazon! Tem um grupo de leitores no facebook também. Só procurar por Livro Condicional.

Ben, foi um prazer responder essas perguntas para o seu blog. Te desejo muito sucesso.

Próximo livro ganhando forma

1 ano depois de escrever as últimas linhas do meu primeiro livro, sigo em delírio com a história do próximo. Vou tentar traduzir a sensação que é começar a escrever algo novo e como eu lido com isso.

Fase 1: Os fantasmas dos personagens (Status: ok)

Não consigo achar uma história legal se ela não tiver personagens bacanas. Já encontrei um monte de narrativa de bons conflitos que se perderam pela chatice dos personagens envolvidos. Daí, minhas histórias sempre começam por eles. Imagino quem eles são, de onde vieram, o que querem de suas vidas, como ganham dinheiro, como eles se relacionam com outras pessoas, a religião, a família e, principalmente, seus defeitos. Gosto muito de personagens que erram, pois isso os deixa mais vivos. E aí vem o problema... Tão vivos que, depois de criados, se tornam fantasmas! Eu sonho com eles e... Eu disse sonhar? Eu quase nem durmo no começo até que me acostume e a paz se restabeleça. Sim, a coisa beira ao surto.


Fase 2: Amarrando conflitos (Status: ok)

Depois que eu já sei sobre quem eu quero falar, chega a hora de criar as situações que serão desenvolvidas ao longo da história. O primeiro ponto e definir a mensagem principal, para que todos os conflitos sejam coerentes com isso. Essa fase é da problematização. Eu crio um verdadeiro mind master, ou fluxograma, que vai relacionando uma coisa com a outra (coloco uma imagem ao lado pra ilustrar essa doideira). Depois, começo a cortar todos os exageros. Fico com medo de fazer um verdadeiro dramalhão confuso. Eu tenho como referência bons livros a partir de ideias simples. Eu testo assim: Eu resumo a história pra alguém (minha vítima é meu noivo), se eu tiver dificuldades de contar, a história não está boa. Então vou fazendo os ajustes. Até que sobre apenas uma ideia mais ampla do que eu quero e um norteamento de começo, meio e fim. Ou seja, eu já começo a escrever sabendo onde quero chegar.


Fase 3: Desapegar das técnicas e começar a escrever de fato (Status: em andamento)

Você pode se questionar se isso tudo não é complicado demais e boicota a criatividade. Eu respondo que sim. Isso se você deixar levar pelas técnicas que julgar serem importantes e se tornar escravo delas. Pra mim, tudo o que eu disse acima serve para dar a segurança que preciso para começar a escrever, mas não fico preso a nada disso. Permito-me viajar o quanto eu quiser e rever tudo o que foi pensado a qualquer momento. A garantia é que, se eu me perder nas ideias, eu tenho algo concreto definido lá no começo que me ajuda a voltar pra uma linha de raciocínio. A frase já tá batida, mas se aplica: é "1% inspiração e 99% transpiração". Sei que nem todos os autores pensam assim e não ligam pra técnica nenhuma. É que existem alguns modelos comerciais de histórias que não precisa de muita transpiração para escrever. São modelos que fazem sucesso popular com pouco esforço. Mas cada um com o seu objetivo. Eu gosto de pensar na possibilidade de ter feito algo relevante para as outras pessoas e, principalmente pra mim. Como diz um autor que eu respeito muito o João Silvério Trevisan "Eu escrevo para o leitor que tenho dentro de mim, que é muito exigente."

Fase 4: E o novo livro sai (Status: sem previsão)

Tenho alguns prazos pessoais para que eu me policie e seja mais profissional nesse trabalho. Defino quanto tempo por dia vou me dedicar e quando seria uma data boa para terminar a história. Mas não posso me fraudar por conta da ansiedade ou por conta das pessoas que me procuram querendo um segundo livro. Mas ele vem e quero muito repetir a autopublicação de Condicional. O que eu adianto que venho trabalhando muito numa história que vai misturar drama, mistério e narra sobre o nascimento de um verdadeiro amor... Tchanan!